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"Titanic", a superprodução de 200 milhões de dólares escrita, dirigida e produzida pelo canadense James Cameron bateu alguns recordes. Antes mesmo de sua premiação como o melhor filme do ano, já aparecia como a maior bilheteria de todos os tempos: 1,25 bilhão de dólares em todo o mundo. No Oscar, foram 14 indicações (mesmo número de "A Malvada", de 1950) e onze estatuetas (mesmo número de "Ben-Hur", premiado em 1960), incluindo filme e diretor. |
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Os nove Oscars restantes foram técnicos: direção de arte, fotografia, figurino, montagem, trilha sonora original (para drama), canção, som, efeitos sonoros, efeitos especiais ou visuais. Hollywood então premiou a técnica de "Titanic"? É verdade, mas isso não elimina de maneira alguma os méritos do filme."Titanic" tem todos os elementos do cinemão hollywoodiano. E aqueles, inclusive, vistos em clássicos como "...E o Vento Levou", de 1939 - foram 13 indicações e oito Oscars. A comparação não é apenas minha, mas de toda a imprensa e principalmente a americana. Farei aqui algumas observações que me parecem óbvias. O filme de James Cameron é, em resumo, um dramalhão romântico que mostra a paixão avassaladora e incontrolável que surge entre dois jovens de classes sociais distintas.
Diante desse histórico, parece-me uma grande injustiça dizer que "Titanic" é apenas técnica e que esse é o único mérito de James Cameron. Há no entanto outras comparações, também históricas e não tão relevantes, que podem sem incluídas apenas no plano das curiosidades. Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, os jovens astros de "Titanic", estão na casa dos 20 anos de idade. Perfeito para o público de hoje, formado em sua monstruosa maioria por meninas histéricas e garotões imberbes. Bem diferente do público nas décadas de 30 e 40, que preferiam Clark Gable, que tinha 38 quando fez "...E o Vento Levou". Vivien Leigh tinha 26. Gable, à época, já havia recebido um Oscar (de melhor ator por "Aconteceu Naquela Noite", de 1934) e uma indicação (melhor ator em "O Grande Motim", de 1935.) DiCaprio não foi indicado por Titanic, o que causou revolta nos fãs. Mas também tem no currículo uma indicação, a de melhor ator coadjuvante em "Gilbert Grape - Aprendiz de Sonhador". A inglesa Kate Winslet, ao 22 anos e com apenas cinco filmes, concorreu em 1996 ao Oscar de atriz coadjuvante por "Razão e Sensibilidade". Vivien Leigh (nascida na Índia mas criada na Inglaterra, com educação tradicional britânica), quando ganhou o Oscar em "...E o Vento Levou", já havia feito dez filmes. O que pretendo indicar com esses dados é que analisar o talento de um artista não é tarefa das mais simples. Alguns podem dizer que não há comparação entre DiCaprio e Gable, ou entre Winslet e Leigh. Há sim, não resta dúvida. DiCaprio, além de um jovem de indiscutível beleza, que provoca no público - sobretudo o feminino - o mesmo que um james Dean, Marlon Brando e Paul Newman de suas épocas, merece muita atenção. Seu talento como ator vai além de um rosto bonito. O mesmo vale para Winslet. Mas voltando a James Cameron. Ele foi chamado de arrogante e outros adjetivos impublicáveis, tudo porque consumiu uma fortuna para rodar seu filme sobre uma história de amor num navio que naufraga. Ocorre que cada centavo de dólar é visto em "Titanic". Sou inteiramente a favor da arrogância do diretor. Quando o orçamento estava para lá de estourado, ele abriu mão do seu cachê, enfiou a mão no bolso e apostou tudo o que tinha no sucesso do filme nas bilheterias. Deu certo. Por isso acho que Cameron tem todo o direito de bradar "I'm the King of the world" (apesar de ele ter feito isso no Oscar para lembrar do personagem de DiCaprio) e dar uma banana para aqueles descrentes que o massacraram. Em 1999 "...E o Vento Levou" completa 50 anos. Posso apostar que em bem menos tempo "Titanic" também será lembrado como clássico e uma obra de referência histórica no cinema. Marcos Petrucelli |